Sobre sobrevivência e convivência em feiras de vinho
Como aproveitar sua Prowine ao máximo, um breve guia
Amanhã, dia 01/10, a Expo Center Norte abre as portas mais uma vez para uma multidão de pessoas que gostaria só de mais um pouquinho daquele Chianti, poxa, a garrafa tá cheia.
Durante meu tempo no mundo do vinho fui a três edições da Prowine, maior feira do segmento na América Latina, cada vez vivendo a feira em um diferente ritmo, conhecendo tanto a experiência da Prowine enquanto visitante quanto enquanto expositora.
Em 2024, por uma série de fatores dentre os quais o principal é a proximidade da minha viagem para os EUA (e o fato de que a Prowine tende a deixar todos seus visitantes com pelo menos uma leve gripe), decidi deixar a feira passar - mas não por aqui!
Então, sem mais enrolação, vamos a um breve guia de como ter a feira perfeita (e fazer dela uma experiência prazerosa pra todos).
. Aprenda a priorizar.
Existe algo que gosto de chamar do “fenômeno Spoleto”, que é o que rola quando o indivíduo é apresentado à oportunidade de colocar 8 ingredientes em seu macarrão no Spoleto e acredita que precisa incluir sim 8 coisas DIFERENTES para fazer seu investimento altíssimo valer a pena como também selecionar os 8 mais caros, mesmo que eles não combinem entre si. O resultado é sempre um prato de macarrão com molho branco e funghi, camarão, bacon, calabresa, cogumelos, frango, tomate seco e um gosto sincero de arrependimento. Muitos vão para a Prowine com a mentalidade “devo aproveitar todas as oportunidades, especialmente todas as mais caras”, e terminam a feira exaustos, alcoolizados e tendo provado uma gama pouco diversa de vinhos, focando apenas nos ícones tintos de vinícolas famosas.
Na minha opinião, a estratégia perfeita de priorização na Prowine passa não por volume ou preço, e sim por raridade. Se você quiser realmente fazer seu tempo na feira contar, busque provar coisas que você terá poucas oportunidades de experimentar em outras pequenas feiras, restaurantes, bares de vinho em taça ou até na sua própria adega. Vá em pequenos produtores, barracas de importadoras de nicho ou países fora dos principais eixos vitivinícolas, e não deixe de experimentar produtos que lutam mais por espaço no mercado brasileiro, como certos fortificados, vermutes ou licores.
. Use a cuspideira.
Se você trabalha com vinho eu não deveria ter que te avisar que, em uma feira profissional, o ideal é permanecer o mais sóbrio possível para garantir seu desempenho. Mas se você é um enófilo desbravando sua primeira feira de vinho existe sempre aquela voz na cabeça que fala “Ah, não posso cuspir um vinho tão bom assim!”. Essa voz está mentindo para você e ela continuará mentindo durante toda a feira.
A cuspideira dos balcões das importadoras ou um copinho descartável em sua mão são os seus melhores amigos, aquilo que te impede de ser uma história triste passada de sommelier para sommelier no fim da noite de quinta “você viu aquele cara quase caindo no corredor C?”.
Ah, e beba água. O tempo inteiro. Sem cuspir na cuspideira.
. Networking é chave - mas saiba a hora de parar.
Viu pelos corredores um viticultor que admira? Uma figura da indústria com quem sempre quis conversar? Primeiramente, você está sóbrio o suficiente? Ok, nesse caso, aborde a pessoa com uma apresentação simples e faça, se tiver alguma dúvida, uma pergunta legal. Elogie um produto, reconheça o trabalho e seja breve. Todas aquelas pessoas estão trabalhando, desde os sommeliers nos balcões de serviço até os presidentes de empresa nos corredores, e aquela pode não ser a melhor hora para você contar a história de sua viagem pra Mendoza com direito a narrativa completa e personagens secundários.
(Não preciso dizer também que não, não é hora de tentar flertar com quem está trabalhando, né? É hora do tintin, não do tintinder.)
. Troque dicas e descubra pérolas
Durante a feira mantenha contato com amigos que também estão fazendo suas visitas e pergunte os destaques que perceberam dentre as coisas que provaram. Talvez o seu amigo encontrou por acidente o melhor vinho da feira, e essa é a sua oportunidade de ir direto nesse produtor que você talvez passaria batido.
. Tenha foco e otimize seu tempo
É do interesse de todo importador que você prove cada vinho de seu portfólio, mas se você aceitar uma dose de todo vinho que te oferecerem em um stand existe uma chance de que sua Prowine inteira seja passada em um raio de 3 stands tomando linhas inteiras de um produtor só. Não tenha medo de falar não; outros clientes falarão, e você não será visto como grosseiro, apenas como objetivo.
. Pense fora da caixa - e fora da feira
Olha ali o seu vinho favorito disponível para degustação! Pelo amor de Deus você tem três garrafas disso em casa, Alberto. Aproveite a falta de comprometimento financeiro com escolhas na Prowine e deixe para lá o que você já conhece em detrimento do desconhecido e até mesmo daquilo que normalmente você evita comprar. Odeia Carménère? Que tal provar os melhores e mais famosos do mundo de graça, para ver se algum muda sua opinião sem gastar com isso?
Além disso, se lembre que a Prowine atrai profissionais de todo o mundo para a cidade de São Paulo por uma semana, e fora da feira restaurantes e bares estarão pipocando com eventos com produtores e importadoras. Em vários momentos o melhor da Prowine é tudo que acontece fora da feira.
. Seja amigo da vizinhança - se teste antes de ir.
Você vai a uma feira gratuita e terá a oportunidade de provar vinhos que custam mais de mil reais por garrafa… assim 40 reais em um teste de farmácia parece barato, correto? Se teste para Covid-19 antes de ir para a Expo e torne o ambiente mais seguro para todos que trabalharão, sem máscaras, em um espaço fechado por 3 dias. Vamos lá, que aquela cuspidela que você dará no baldinho de um desconhecido tenha apenas vinho e não um vírus respiratório grave.