Ode ao supérfluo

Você não precisa de mais uma newsletter, sinceramente.

Em uma era em que todo profissional é “incentivado” pelo mercado a se tornar produtor de conteúdo, um empurrãozinho delicado ou um tapão da mão invisível do mercado na sua nuca, atingimos uma saturação imensurável de todos os canais.

Você não precisa de mais uma newsletter. A questão é que eu sou obcecada por tudo aquilo que não é necessário, vital, essencial. Tudo aquilo que você não precisa - é exatamente a essas coisas que eu dediquei a minha vida inteira.

Acho que apenas o supérfluo me atrai como uma matéria de estudo. Os processos psicológicos engatilhados pelo essencial me parecem muito simples; se o ser humano sente fome, ele busca comida. Se ele sente sede, ele busca água. Se sente frio, ele busca o abrigo de peles e tecidos.

Mas e o que o faz buscar uma infusão complexa como Chartreuse, limitada por tempo, preço, importação e escassez, para matar essa sede ao invés de um copo d’água prontamente disponível? O que o faz acreditar que, se o abrigo de peles e tecidos que o protegerá do frio incluir a estampa de dois Gs entrelaçados, ele vale mais, mesmo que ele o proteja do mesmo frio?

Por isso mesmo estou te trazendo uma nova newsletter, tão supérflua como tudo que traz cor para o cotidiano. Nos posts da Guia Michelana pretendo escrever sobre bebidas alcóolicas (claro), gastronomia, viagem, moda, cultura e arte.

No prato principal da vida, tudo isso é apenas guarnição; mas toda guarnição precisa de uma tropa que a defenda.